Vamos falar sobre iceberg, digo, inconsciente?

Formado de gelo, em plena água do mar, uma parte dele é visível e outra, maior ainda, não. A figura do iceberg é bastante usada como metáfora em aulas introdutórias de psicanálise para tratar do inconsciente. É recorrente, é! Mas ajuda a associar as ideias. O que está acima da superfície representa o consciente e o que está abaixo (submerso), o inconsciente. Espero que o Titanic desvie dessa vez. O inconsciente é formado, em grande parte, pela instância psíquica chamada de Id, juntamente com as pulsões de vida e de morte. A energia psíquica movimenta-se e faz pressões no Ego, que é a parte consciente da personalidade. O Id contém desejos e tudo que foi recalcado (reprimido) pelo Ego. O Id é amoral e atemporal. Como é possível ter acesso aos conteúdos do Id? Na verdade, não conseguimos acessar o inconsciente, apenas os seus representantes que se manifestam como afetos e sintomas. Atos falhos, sonhos, entre outros, são formas que alguns conteúdos passam para o Ego (que é consciente), de maneiras disfarçadas/transformadas. Referências Zimerman, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica, uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 2007.

Entenda o que é recalque

Chegou o dia de falarmos sobre recalque O recalque (ou repressão) faz parte do nosso funcionamento psiquico e está relacionado à formação da personalidade e ao desenvolvimento emocional. Foi Freud, o pai da psicanálise, quem estabeleceu o conceito e tudo mais relacionado a ele. A repressão/o recalque é um mecanismo de defesa do Eu (Ego) que impede que conteúdos inconscientes se tornem conscientes. Memórias, angústias, afetos e desejos intoleráveis ou desprazerosos para o Eu (Ego) são suprimidos para o inconsciente. A teoria da repressão, necessária no estudo das psiconeuroses, afirma que tais desejos reprimidos ainda existem, mas que, ao mesmo tempo, existe também uma inibição que pesa sobre eles. A interpretação dos sonhos, p.275 Toda a energia reprimida/recalcada estará sempre contida quietinha no inconsciente, sem nunca fazer pressões no Ego? Conteúdos suprimidos nunca podem ser “recordados”? Bem, isso já é um tema para outro post… Referências FREUD, Sigmund, Obras completas volume 16: O Eu e o Id, “Autobiografia” e outros textos (1923-1925). São Paulo: Companhia das Letras, 2011. FREUD, Sigmund, Obras completas volume 04: A interpretação dos sonhos (1900). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

O que é psicoterapia?

Afinal, o que psicoterapia significa? Basicamente, a palavra quer dizer que existe um tratamento e um acompanhamento de questões de saúde mental por parte de uma psicóloga, que auxilia: no alívio de sofrimentos emocionais, no manejo de comportamentos disfuncionais, na melhora de sintomas psíquicos e na lida do paciente com a familia, relacionamentos amorosos, amigos e colegas de trabalho. A psicoterapia é também uma chance de ampliar o autoconhecimento e proporcionar o desenvolvimento pessoal daqueles que recorrem à ela. Pode ser, também, um momento para a promoção de saúde e qualidade de vida. Tudo isso acontece a partir do trabalho técnico e ético da psicóloga, que presta esse serviço. A escuta, a compreensão e a interpretação da profissional são partes do processo psicoterapêutico. O acolhimento das queixas e demandas do paciente é o ponto de partida do que chamamos de psicoterapia. “Assim, entende-se que a psicoterapia é um campo de conhecimentos teóricos e técnicos, e uma prática de intervenção sustentada por esses conhecimentos, que se desenvolve em um relacionamento interpessoal.” (Conselho Federal de Psicologia, 2022, p.11) A psicoterapia se organiza em sessões (atendimentos) agendadas, com determinada duração de tempo e podem ser realizadas individualmente ou em grupo. Outra característica importante, é a abordagem psicólogica utilizada pela profissional, pois são diversas. Vale acrescentar que a psicóloga pode utilizar testes ao longo das sessões para entender mais sobre alguns aspectos subjetivos e da personalidade da/o paciente que talvez não tenham sido trazidos em momentos anteriores. Leia também: Por que a psicoterapia pode me ajudar? Por que Psicologia no plural? Daqui me despeço, até o próximo post!

O que é um divã?

Se você pesquisar divã e olhar as imagens, poderá observar algo assim: É um móvel charmoso e elegante. É uma espécie de sofá diferente, alguns com designs mais clássicos, outros mais modernos, há variações de acabamentos, cuja função é convidar a pessoa a se deitar. É uma opção confortável, sem dúvida. Mas em um consultório, qual é o objetivo do divã? No consultório de psicoterapia psicanalítica (ou de base psicanalítica), o divã é utilizado para que não haja (ou que diminua) o contato visual do paciente com a psicoterapeuta, reduzindo interferências e deixando o discurso mais livre, favorecendo as associações de ideias e a fala do paciente. Foi na clínica de Freud que o móvel foi incorporado ao método psicanalítico. É interessante pensar sobre a relação entre a configuração do consultório, o afastamento e a aproximação entre psicoterapeuta e paciente. Lisboa (2017) argumenta: “Contudo, a tentativa de distanciar o analista do analisando recebe um golpe, quando, diferentemente do protocolo de atendimento médico que aparenta maior praticidade e superficialidade na relação, o uso do divã encurta a distância afetiva e sujeita o analista tanto quanto o analisando às querelas dos fenômenos psíquicos. Se Freud teve a intenção de manter-se afastado do paciente, não percebeu que esse manejo o aproximou dele, ainda que mantivesse o campo óptico encoberto pela disposição dos móveis do consultório.” (Lisboa, 2017, p.115). O uso do divã pode ser um diferencial para a condução da psicoterapia, mas nem sempre. Deitar (ou não) no divã não é indicativo de maior ou menor engajamento na análise por parte do paciente. A parceria terapêutica e o manejo que a psicoterapeuta faz da transferência são aspectos que não se restringem ao físico, pois o divã está em um papel simbólico, sobretudo. Daqui me despeço, até o próximo post! Referências Lisboa, Aline Vilhena. O Divã De Freud No Tempo Atual: Ressignificando O Objeto-Veículo De Análise Na Clínica Psicanalítica. Revista Psique, Juiz de Fora, v. 2, n. 3, p. 110-126, jan./jun. 2017. Sigmund Freud. Obras Completas Volume 10. Observações Psicanalíticas Sobre Um Caso De Paranoia Relatado Em Autobiografia (“O Caso Schreber”), Artigos Sobre Técnica E Outros Textos (1911-1913). São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Janeiro branco: a saúde mental e emocional em pauta

Janeiro inaugura o ano e simboliza novos começos, oportunidades e traz muitas expectativas. É natural que as pessoas avaliem os aspectos profissional, financeiro, social e afetivo de suas vidas e estipulem planos/objetivos para o ano que acontecerá pela frente. Diante isso, janeiro foi escolhido para ser um mês de conscientização sobre a saúde mental e emocional. É uma chance para conhecermos e entendermos mais sobre o tema e sobre os transtornos mentais, tais como ansiedade, depressão e pânico, que podem surgir em contextos de estresse prolongado. Esse mês temático foi criado em 2014, em Uberlândia-MG, e a cor branca foi escolhida porque é associada à uma página em branco, a ser preenchida da maneira que a pessoa quiser ao longo do ano recém iniciado. Conhecimento nunca é demais, especialmente sobre a saúde mental e os transtornos relacionados à ela, que ainda são muito estigmatizados.

Entenda as funções de psicólogas e psiquiatras

Qual é a diferença entre esses dois profissionais? Ou o trabalho deles é o mesmo? Bem, ambos cuidam da saúde mental e emocional das pessoas, mas existem diferenças, a começar pela formação acadêmica. Acompanhe abaixo: A psicóloga é uma profissional graduada em Psicologia (curso superior de 5 anos de duração) e oferta uma escuta qualificada (técnica, ética e teórica) para seus pacientes. Nas sessões são ouvidas e acolhidas as queixas e as demandas trazidas pelas pessoas atendidas. A partir das técnicas da abordagem psicológica utilizada pela profissional e da parceria terapêutica estabelecida entre paciente-psiterapeuta, acontece o processo psicoterapêutico. A psicoterapia é valiosa para lidar melhor com situações familiares, profissionais e afetivas, além, é claro, de promover o autoconhecimento, elaborar questões emocionais (e vivências traumáticas), compreendidas as origens e os contextos da situação de saúde da pessoa em atendimento e promover a saúde como um todo. Outro ganho é o alívio de sintomas psiquicos que podem ou não estar relacionados a algum transtorno mental (humor, personalidade, entre outros). A psicóloga é um apoio emocional para as situações expostas por seus pacientes durante as sessões. Em relação ao processo terapêutico, ele pode ser: breve (cerca de 12 sessões), plantão (1 atendimento) ou por meses e anos. A frequência dos atendimentos pode ser semanal, quinzenal ou mais de uma vez por semana, a depender da demanda e da abordagem, assim como das possibilidades do paciente e profissional. As sessões de psicoterapia podem ser realizadas individualmente, em casal ou em grupo. Independente da abordagem e da configuração das sessões, a profissional psicóloga precisa ter um registro ativo no Conselho Regional de Psicologia para exercer a profissão. Por exemplo, o meu número de registro é 06/201399, no qual o número 6 indica a região: o estado de São Paulo. Vale lembrar que a aplicação e interpretação de testes psicológicos é uma atribuição exclusiva de psicólogas/psicólogos. E a/o psiquiatra? Este também é um/uma profissional que cuida da saúde mental e emocional das pessoas. Para ser um/a psiquiatra, é necessário se formar em Medicina e depois se especializar na área através da residência médica em Psiquiatria. É uma especialidade cuja técnica, teoria e prática está voltada para diagnosticar e tratar de questões emocionais, transtornos mentais e os sintomas a eles relacionados. Nas consultas clínicas, o/a psiquiatra pode ou não prescrever uma medicação a partir dos sintomas relatados pela pessoa, do histórico pessoal de saúde e familiar. Além disso, exames laboratoriais também podem ser pedidos pelo/a psiquiatra para saber o quadro geral de saúde do paciente. A frequência das consultas pode ser mensal ou em períodos mais espaçados, a depender da situação clínica do paciente. Para atuar, o médico precisa ter o registro ativo no Conselho Regional de Medicina (CRM) e, se ele se especializar, também terá o RQE (Registro de Qualificação de Especialista). O sigilo dos atendimentos é a base da prática clínica, seja do/a psiquatra ou da psicóloga. A ética profissional é fundamental para uma boa parceria terapêutica. Sessões e consultas conduzidas por profissionais que não julgam e que acolhem as demandas de seus pacientes/clientes também são essenciais para uma prática ética e com compromisso social. O trabalho conjunto entre psicóloga e psiquiatra é muito importante para uma boa evolução do quadro clínico e para o desenvolvimento emocional do paciente.